venerdì 19 marzo 2010

Magri e o neologismo “imexível”

O ex-sindicalista Antônio Rogério Magri, nascido em Guarulhos, São Paulo, a 26 de outubro de 1940, foi ministro do Trabalho durante o governo Fernando Collor de Mello. Magri foi eleito presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo para o período de 1978 a 1990. Em maio de 1989 foi eleito presidente da Central Geral dos Trabalhadores (CGT). Essa posição de destaque na CGT e o apoio pessoal durante a campanha, fizeram com que, após a vitória eleitoral, ele fosse chamado a compor a lista de ministros do novo governo. Envolvido nas acusações de corrupção que atingiram todo o entorno de Collor, Magri foi acusado de ter recebido 30 mil dólares. Foi demitido em janeiro de 1992, afastando-se definitivamente da política e do sindicalismo atuante. O principal feito de Magri em sua passagem pelo Ministério, além da pecha de ter sido acusado de receber propina, foi ter criado um neologismo na década de 1990, quando se referiu ao plano Collor (plano econômico do governo Collor) como sendo "imexível".

Embora o ex-ministro Magri tenha sido criticado pelas elites e pela mídia ao dizer que o Plano Collor era “imexível”, sabe-se que esta palavra poderia existir perfeitamente no léxico da língua portuguesa. Veja também outros exemplos de neologismos criados na história e como se dá o processo de criação de novas palavras.

NEOLEXIA

Utilizando sufixos, prefixos e termos gregos e latinos, bem como os elementos de outras línguas, qualquer um pode “criar” novas palavras. A palavra “criar” não deve ser confundida com inventar. Pode-se inventar um neologismo grotesco, ilógico e sem nenhum sentido. Mas o que se propõe é um trabalho intelectual e criterioso de combinação de elementos léxicos, como prefixos e sufixos, dentro de uma lógica que dá sentido à nova palavra criada. A neolexia, do grego neo = novo, + lexia, de lexis = palavra, é uma parte da linguística que trata da criação de palavras. Você pode não se tornar um destacado neologista, mas poderá, com este exercício, passar a melhor compreender neologismos encontrados e a decifrar palavras clássicas de raro uso, à primeira vista, incompreensíveis, mas que podem ser decifradas a partir da separação dos elementos de que se compõem. O que, às vezes, não é tão difícil, mas implica em certo conhecimento e reflexão. A neolexia que também é chamada onomaturgia = trabalho de fazer nomes, é uma atividade antiquíssima. Platão em Crátilo, já faz referência a ela, dizendo ser uma arte cada vez mais raramente encontrável entre os homens.

Palavras criadas por escritores clássicos e modernos

Foram muitos os escritores clássicos e modernos que criaram palavras. Homero, de tão embevecido com o belo amanhecer na Grécia, escreveu: “Quando apareceu a filha da manhã, a Aurora rododáctila...” (Ilíada 1,477 e Odisseia 2,1) et passim. Nesse trecho ele cria o termo “rododáctila”, unindo as palavras: “rodos” = rosa + dáctilo = dedo. Portanto ele antropomorfiza Eo, a deusa da aurora, simbolizando-a na rosada mão aberta, fazendo desaparecer as trevas e trazendo o tom rosáceo, prenúncio da luz de um novo e lindo dia. Artistóteles em sua Retórica (1405 b) usa o termo e faz um acurado comentário sobre a beleza, a correção e a exatidão que o mesmo encerra. A Homero, também é atribuído um neologismo grego surgido no seu tempo, numa obra em forma de paródia intitulada: Batracomiomaquia. Esse termo é a simples junção de três nomes: Batráko+mio+maquia = “Batalha das rãs com os ratos”. A autoria nunca foi provada. É bom saber que o termo “mio” em grego, tem um homônimo que é “músculo”.

O escritor francês, François Rabelais *1494+1553, em Pantagruel, criou o personagem Panúrgio, nome composto de pan = tudo, mais urgio, de ergon = trabalho. O termo tem o sentido de esperto, malino, impossível... Panúrgio comprou caro o carneiro mais velho do rebanho de seu desafeto e ato contínuo, jogou-o no mar. Imediatamente todo o rebanho precipitou-se atrás dele. O inimigo perdeu seu rebanho. Por associação pode-se entender as palavras com mesmo final como: cirurgia, dramaturgia, liturgia, meliturgia, metalurgia. mineralurgia, siderurgia, taumaturgia... O economista francês Jean-Claude M. Vincent *1712+1759, em um momento de luminosa inspiração “criou” a palavra: bureaucratie, que é a união da palavra francesa “bureau” = mesa com a palavra grega “cracia” = poder. Em português transformou-se em “burocracia”. Esta foi uma palavra muito bem aceita em todas as línguas ocidentais , o que demonstra ser este um problema universal. Esta palavra é uma feliz criação, pois retrata exatamente o que a burocracia representa: “o poder da mesa”. O sujeito senta-se atrás de uma mesa e tome ordens, exigências para chatear as pessoas... Aqui entre nós brasileiros esta palavra, às vezes, é também traduzida como “burrocracia”, em uma clara alusão de que seriam medidas tomadas por pessoas com poder, mas pouca inteligência.

No início dos anos 60 os russos criaram a palavra “cosmonauta” (que pela nova grafia pode ser “kosmonauta”, pois vem do grego kosmós = universo). No auge da guerra fria, os americanos, “revidaram” criando a palavra “astronauta”. Hoje as duas palavras são usadas igualmente. Em maio de 1998, quando os chineses começaram a explorar o espaço sideral. O chinês Chiew Lee Yih teve a ideia de “criar” um novo nome para designar “um chinês navegando no espaço”. Ele concebeu a palavra “taikonauta”, que é a junção de “taikong” = espaço em chinês (mandarino) + a palavra grega e também latina, “nauta”. É por isso que um chinês navegando no espaço não é um argonauta, não é um kosmonauta, nem um astronauta, mas sim, um “taikonauta”. E a palavra tem tudo para entrar no uso comum mesmo no ocidente.

O escritor palestino Imil Habibi *1922+1996, em livro publicado em 1974, “criou” o termo “pessotimista” com que designa uma pessoa que está num dilema entre o pessimismo e o otimismo, ou que avaliando a realidade concreta gostaria de ser otimista, mas o pessimismo barra-o a meio caminho. O livro foi traduzido para o espanhol e a palavra “pesoptimista” (em espanhol) bastante discutida e utilizada na década de 1990 na Espanha e em países de língua hispânica. O escritor indiano Jairam Ramesh, em 2005, publicou o livro Making Sense of Chindia, (India Research Press, Bangalore). Ele refere-se a um possível novo país CHINDIA, que seria a fusão da China com a Índia, cujos cidadãos seriam os “chindianos”. Esse país com o “software” da Índia e o “hardware” da China desequilibraria o mercado mundial da informática e periféricos.

Exemplos

01 – Os bebês são galactófagos, já os bisavós, em geral, tendem a ser galactófugos.
02 – Quase toda modelo, quando não sofre de anorexia, sofre de mogiorexia.
03 – Os anacoretas do deserto da Núbia eram austeros oligólogos.
04 – Hoje são muito poucos os países do mundo nos quais ainda existem cinódromos.
05 – A ablutomania é uma prática comum das pessoas escrupulosas para livrar-se da culpa.
06 – O candidato, antes das eleições, é um perfeito demófilo, depois das eleições, nem tanto.
07 – Jânio Quadros, um notório alectorófobo, enquanto presidente, proibiu a alectoromaquia.
08 – Os oncologistas aconselham aos habitantes das regiões equatoriais a serem heliófugos.
09 – A incomensurável filarquia dos ditadores, quase sempre, leva-os a cometer excessos.
10 – A moça era dotada de notável eutaxia, mas as amigas levaram-na a optar pela anarquia.
11 – A televisão promoveu uma verdadeira logomaquia entre os candidatos a presidente.
12 – De notória politopia, como era da família Pontes, apelidaram-no de “Saulo Ponteaérea”.
13 – Na Semana Santa, a perigosa piromaquia é a grande atração de Cruz das Almas (BA).
14 – A luta entre as religiões era tão acirrada, que um ateu sugeriu a criação de um teódromo.
15 – Após a lida diária vem a noite e o sertanejo extasia-se com a bela visão da panselene.
16 - A magreza, forma de beleza imposta pelos estilistas, exige que toda modelo seja lageniforme.

Solução

01 – Galactó, = leite, +fagos =beber; galató, = leite + fugos = que evita, foge.
02 – Anorexia = falta de apetite; mogiorexia = dificuldade para se alimentar.
03 – Oligólogo = de olígos, i. é, pouco + logos = palavra. (Eram silenciosos).
04 – Cinódromo = de cynos, i. é, cachorro + dromo= local de corrida.
05 – A ablutomania é a prática obsessiva de lavar as mãos. Do verbo latino abluere = lavar.
06 – Demófilo, de demos = povo, + filo = amigo.
07 – Alectorófobo, de aléctoro = galo, + fobo = medo; alectoromaquia, maquia = briga.
08 – Heliófugos, de hélios = sol, + fugo, do verbo grego, phugô = fugir.
09 – Filarquia, de phílos = amigo, + arquia de arxé = poder.
10 – Éutaxia, de eu = bem, + taxia = ordem; anarquia, de an = privativo, + arquia = norma, lei...
11 – Logomaquia, logos = palavra, + maquia = combate. (Guerra de palavras).
12 – Politopia, de poli = muitos, múltiplos + topos = lugares. (Que visita muitos países).
13 – Piromaquia, de píro = fogo, + maquía = combate. (Luta com fogos de artifício).
14 – Teódromo, de Téo = Deus, + drômo = lugar de corrida. No caso, corrida dos deuses.
15 – Panselene, de pan = total, + selene = lua. (A visão da lua cheia).
“Criar” palavras
16 - Lageniforme, de lágenos = garrafa, em grego,no sentido figurado = fina, magra.
E essa palavra já está no VOLP 2009. Não é criação minha, só uso e divulgação.

“É preferível ensinar o necessitado a pescar a dar-lhe o peixe já pescado”. Agora, você agora já está preparado para criar suas próprias palavras. Divididos em grupos, façam uma busca de prefixos e sufixos latinos e gregos e, agregando os termos de outras línguas de que muitos são conhecedores, tentem “criar” novos nomes compreensíveis, lógicos e aceitáveis. Sugere-se a realização de uma “tempestade de ideias” (brainstorming) para trazer à luz as palavras que se quer e são viáveis de serem criadas. A participação do professor e de pessoas bem informadas em literatura e em línguas clássicas é importante neste processo de criação. É muito importante a participação de todos no processo de criação. Cada um tem a sua contribuição a dar. Não existe opinião que possa ser considerada boba ou que seja logo descartada. Por isso, solte as amarras, extravase, jogue fora a timidez e dê sua opinião. A hora de falar é no momento da criação, quando se realiza a tempestade de ideias. Caso não esteja conseguindo falar, levante o braço, que o professor (moderador) dar-lhe-á voz. Você também pode realizar esse processo sozinho.

O livro Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, disponível em Fortaleza na Banca Shopping, na Praça Portugal, traz uma lista com 66 prefixos e sufixos latinos e gregos e 247 elementos gregos usados nas ciências e nas artes para ajudar no processo de criação de palavras, além de tantos outros exercícios interessantes sobre o Acordo e outros temas referentes ao estudo da nossa língua. O livro também poderá ser pedido por reembolso ou pelo telefone (85) 32579583.

Zacharias Bezerra de Oliveira

2 commenti:

  1. Olá, gostaria de saber se posso sugerir a utilização de um neologismo para indicar a pessoa que pratica atividades musicais; ao invés de falar "musicista" gostaria de saber se podemos utilizar os termos "Musista" ou "Mucista"; grato pela atenção,
    Ivan Magre.

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    1. Ivan, acredito que não. Pois, é importante manter a raiz da palavras (o radical), que no caso é "music".

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