martedì 2 marzo 2010

Não trema em cima da linguiça

Continuaremos a falar do hífen para explicar o que aconteceu com o seu uso ou desuso, conforme as novas regras do Acordo. Tendo como parâmetro a Base XV do Acordo Ortográfico, o hífen continua sendo aceito nas palavras compostas sem forma de ligação. Ao redigir um abaixo-assinado procure evitar o baixo-astral. Se você é cabeça-feita não vive por aí ao deus-dará, nem é um enxuga-gelo. Quem é faz-tudo pode esconder no guarda-roupa um homem-morto, ibero-americano, um joão-ninguém. A nossa língua-mãe é muito maltratada. À meia-noite, o novo-rico norte-africano utilizou um verdadeiro objeto-símbolo. E o pai-joão escreveu no quadro-negro: quem rala-coco é um sabe-tudo. O meu tio-avô trabalha na usina-piloto de produção de combustível bioecológico. Enquanto isso, aqui no nosso País, enquanto o presidente viaja e o vice-versa, o zé-povinho se... Bom, é melhor nem falar o que acontece com o canelau.

A Base XV também explica que se emprega o hífen nos topônimos/topónimos compostos iniciados pelos adjetivos grã, grão, ou por qualquer forma verbal cujos elementos estejam ligados por artigo: Grã-Bretanha, Grão-Pará; Passa-Quatro, Quebra-Costas, Quebra-dentes, Traga-Mouros, Trinca-Fortes; Albergaria-a-Velha, Baía de Todos-os-Santos, Entre-os-Rios, Montemor-o-Novo, Sino-Japonês (relativo à China e ao Japão), Trás-os-Montes, Jônico-ático etc. Também entra nesta lista Guiné-Bissau.

Também cabe hífen em todas as palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, sejam aves ou outros animais, estejam ou não ligadas por preposição ou outro elemento e independente de qualquer outra regra sobre hífen. Nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou h. Nos compostos com os elementos além, aquém, recém e sem.

Emprega-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando, não propriamente vocábulos ou encadeamentos vocabulares. Nas expressões Liberdade-Igualdade-Fraternidade, a ponte Rio-Niterói, na corrida Paris-Dakar, no percurso Lisboa-Coimbra-Porto, na ligação Angola-Moçambique, no voo Rio-Roma. Nas combinações históricas e nos topônimos/topónimos: Austro-Húngaro, Alsácia-Lorena, Angola-Brasil, na briga Sino-Tibetana, Tóquio-Rio de Janeiro.

Outros casos de palavras que aceitam hífen: a partícula “reto” só tem hífen em reto-romance, reto-românica e reto-romano; a partícula “retro” só tem hífen nas palavras retro-oclusão, retro-ocular, retro-operar, retro-ovárico. Também as locuções que se referem a espécies botânicas e animais serão sempre grafadas com hífen: a língua-de-vaca (erva), o pau-de-arara (árvore), o pau-de-sebo (árvore pequena), o pé-de-galinha (planta), o pé-de-galo (planta) e até mesmo o pé-de-pato (se for árvore), o pé-de-pau (espécie de abelha), o pomo-de-adão (árvore)...

Espera aí! O que tem isso a ver com a linguiça? Nada e tudo ao mesmo tempo. Pode comer linguiça com frequência e pronunciar estas palavras do mesmo jeito. Simplesmente, não trema em cima da linguiça. O trema agora só existe nas palavras estrangeiras e nos nomes próprios que assim estejam registrados. Até a próxima semana, quando continuaremos falando sobre a Base XV. Mas, dessa vez, com as palavras que não se escrevem com hífen.

Zacharias Bezerra de Oliveira

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