martedì 16 febbraio 2010

Fonema e Grafema

A Talleyrand (*1754 +1838), político, filósofo, clérigo e diplomata francês, se atribui a frase: “La parole a été donnée à l’homme, pour déguiser sa pensée!” (A palavra foi dada ao homem para dissimular seu pensamento). O conselho não é recomendável, mas eu uso a frase para mostrar o que acontece entre a fonética e a grafia nas línguas. O que se escreve (grafema) e o que se pronuncia (fonema), constitui uma bela coleção de disfarces.
Em português, das cinco vogais apenas o “a” e o “i” têm som único. Escrevemos “disse” e pronunciamos “dissi”, escrevemos “botou” ou “goela” e pronunciamos “butou” ou “guela”, sovela e pronunciamos “suvela”, etc.
Em italiano e em espanhol, todas as vogais são pronunciadas distintamente, embora o italiano tenha o “gl” com som de “lh” e o espanhol tenha o “j” com som de “r”, mas isso para nós, não para eles.
Nas línguas neolatinas, não há diferença de pronúncia entre o “i” e o “y”. Em português se pronuncia do mesmo jeito, lýrio ou lírio; em francês têm o mesmo som, “signe” ou “cysne”, etc.
Em francês são muitos as diferenças de pronúncia em relação ao português: oi = uá, se escreve foi, loi, roi e se pronuncia: fuá, luá, ruá; se escreve “in” e se pronuncia en =, se escreve “en” e se pronuncia “an”; se escreve “é” e se pronuncia “ê”; por isso, em francês, Pelé se pronuncia Pelê.
O alemão tem grande aproximação entre a fonética e a grafia, praticamente só tem duas alterações: “eu” = “oi” como em Freud, Feuerbach... e “ei” = “ai” como em “frei” = livre. Além do trema, que tem uma leve influência na pronúncia.
O inglês é a língua campeã de disfarces fonográficos. As vogais e grupos vocálicos variam sei lei, de uma palavra para outra. O “a”, por exemplo tem som de “ei”; de “e”; de “ö”; de “û” e às vezes tem até o som de “a” mesmo.
Dito isso, conclui-se: é inócua a discussão em torno do Acordo Ortográfico, sobre como escrever e pronunciar o português. É inútil legislar sobre pronúncia dada a impossibilidade de se fazer um controle geral da pronúncia.
O estudioso alemão Heinrich Cornelius Agripa (*1486 +1534), em “De incertitudine et vanitate scientiarum” (1527), diz: “A única razão para as regras da gramática é a decisão dos que as fizeram.” E justifica a sua afirmação dizendo: “O melhor gramático latino, não seria capaz de explicar logicamente, porque o genitivo de Júpiter e Jovis e não Jupiteris”.
A propósito por que o nome do nosso grande jogador se escreve Kaká e não Cacá, se no alfabeto português nem existia a letra “k”? É porque alguém decidiu assim, e não há o que se discutir.
Frei Hermínio Bezerra de Oliveira
Especial para o “Diário do Nordeste”.

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