domenica 30 maggio 2010

DE ONDE VÊM AS PALAVRAS?

Em seu livro sobre origens e curiosidades da língua portuguesa, cujo título é o mesmo deste artigo, Deonísio Silva (2004), discorre sobre a etimologia histórica de muitas palavras, uma delas está muita ligada às nossas origens sertanejas: aboiar.

O autor explica que aboiar vem de boi, do latim, em que o nominativo é bos e o genitivo, bovis. Acrescentaram-se, então, o prefixo "a" e o sufixo "ar" à palavra "boi" e formou-se a palavra aboiar. É o ato dos vaqueiros cantarem à frente do gado para tranquilizar e conduzir as reses. Diversos escritores tratam dos sentimentos do boi, do qual, dizem, só não se aproveita o berro. A monotonia da cantiga, entoada pelos condutores de gado, expressa a saudade de homens e bois, ambos afastados do lar e da querência, rumo a separações inevitáveis.

Segundo Deonísio, Euclides da Cunha discerniu um complicado espaço de negociação devido às ligações afetivas entre homens e boi: "Vai dali mesmo contando as peças destinadas à feira; considera, aqui, um velho boi que ele conhece há dez anos e nunca levouà feira, mercê de uma amizade antiga; além de um numbica claudicante, em cujo flanco se enterra estrepe agudo, que é preciso arrancar; mais longe, mascarado, a cabeça alta e desafiadora, seguindo apenas guiado pela compreensão dos outros, o garrote bravo, que subjugou pegando-o de saia, e derrubando-o na caatinga; acolá, caminhando folgado porque os demais o respeitam, abrindo-lhe em roda um claro, largo pescoço, energadura de búfalo, o touro vigoroso, inveja de toda redondeza, cujas armas rígidas e curtas relembram estalafas, rombas e cheias de terra, guampaços formidáveis, em luta com os rivais possantes, nos logradouros; além, para toda a banda, outras peças, conhecidas, todas, revivendo-lhe todas, uma a uma, um incidente, um pormenor qualquer de sua existência primitiva e simples".

Aliás, esse canto do vaqueiro, que nosso avô, Luiz Bezerra de Menezes Lima, entoou tantas vezes conduzindo gado dos Ihamuns para os sertões de Goiás, também já foi comparado a cantiga de ninar o gado, explica Deonísio, e mereceu outros lamentos, como nos versos de Pedro Bento e Zé da Estrada: "Cada jamanta que eu vejo carregada/ transportando uma boiada,/ me aperta o coração./ E quando olho minha tralha pendurada/ de tristeza dou risada/ pra não chorar de paixão".

Outra canção diz respeito a uma boiada que passava por uma porteira lá pelas bandas de Ouro Fino, Minas Gerais, que era sempre pressurosamente aberta por um menino, o qual, foi um dia atingido por um boi bravo. Estória retratada até nas telas de cinema. Deonísio relaciona a essa passagem do boi pela porteira, à denominação de "boi" à menstruação das meninas em algumas regiões do centro-oeste do país, que também recebe o sinônimo de paquete, uma clara referência ao packet-boat, barco inglês que aportava com a correspondência da Europa uma vez por mês. Estar de boi pode ter influência também do boi bravo, que, segundo explica Deonísio, teria servido de metáfora nordestna para a síndrome pré-menstrual, atualmente conhecida por TPM, as iniciais de tensão pré-menstrual. Mas isso já outra estória...

Zacharias Bezerra de Oliveira

1 commento:

  1. Frei Hermínio Bezerra!
    Muito obrigado pela transcrição! Há dezesseis anos, toda semana, faço coluna de etimologia na revista CARAS. Meu projeto é partilhar com milhares de leitores - a tiragem da revista é 350.000 exs - o berço das palavras de nossa língua portuguesa e mostrar como são complexos os caminhos que as trouxeram até nós e nosso tempo.
    Um abraço do
    Deonísio da Silva
    deonisiodasilva@uol.com.br e deonisio.dasilva@gmail.com

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